quarta-feira, 15 de junho de 2011

Dia especial

Ela estava acostumada em ser o foco de todos os olhares. Seu lindo rosto e corpo estavam estampados em todos os tabloides sensacionalistas, revistas e mil programas televisivos. Ela era o néctar para os paparazzi da cidade. Sua vida era de fato um espetáculo veiculado nos quatro cantos do mundo, com telespectadores fiéis e atentos. Ela era uma celebridade e muito confortável nesse papel, vale ressaltar.
Enquanto se vestia, perfumava e maquiava tornando-se ainda mais exuberante, se deu conta de que estava atrasada para mais um compromisso de trabalho. De repente, como num rompante tomara consciência da data. Gritou para Maria sua assistente:
- Que dia é hoje, Maria?
- Quarta-feira, senhora!
- Não, não. Pergunto dia do mês?
- Dia 16, senhora.
Ela estava desnorteada, dia 16 de abril. Meu Deus. Estava ausente, diante de Maria que parecia não entender exatamente nada.
- Senhora?
- Oh Maria, desculpe. Pode ir. Obrigada.
Acostumada com respostas superficiais para todos os questionamentos universais, parou e fez uma reflexão. Pausa que mobilizou seus sentimentos e lembranças. Lágrimas escorreram pela sua linda face. Como num clarão, a imagem de sua infância surgiu.
Viu-se ainda menina, brincando com o seu pai. Como eram doces aqueles momentos. Agora, ela estava tomada pelas mãos do papai e girava contemplando o céu em movimento. Ela se sentia tão bem. Segura, apesar de não saber exatamente o significado dessa palavra. Como toda criança, ela vivia de sentimentos e não de conceitos. Deitados sob o céu, ela via coelhinhos em nuvens enquanto seu pai dobrava as magas da camisa se preparando para enchê-la de cosquinhas.
Como foi feliz por ter um pai tão presente, pensava. Lembrando-se dos olhos esverdeados e sempre marejado pela emoção de viver de seu pai. É seu pai era um homem muito emotivo e bravo.
Maria entra no quarto, interrompendo seu devaneio.
- Seu carro já está pronto, senhora. O motorista já está a postos.
- Obrigada, Maria.
Olhou sua imagem por um instante arrumando a maquiagem. Julgou de bom tom tudo que viu diante do espelho, colocou os brincos, pegou sua bolsa e saiu do quarto.
Desceu as escadas, abriu a porta e avistou o motorista que lhe saudou com um sorriso e um solene bom dia.
- Bom dia, James!
- Bom dia, Senhora. Seguiremos direto para agência?
- Não, James. Hoje vamos mudar o percurso. Vamos passar em uma floricultura, quero presentear com flores uma pessoa muito especial, que se estivesse entre nós, colheria hoje, mais uma abobrinha no quintal da vizinha.
- Sim senhora disse James, sorrindo, meio sem entender.

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