segunda-feira, 20 de junho de 2011

Martha Medeiros - Divã

Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaraçada do que aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele homem, ele era meu, e não era amor, então era o que?
Dizem que as pessoas se apaixonam pela sensação de estar amando, e não pelo amado. É uma possibilidade. Eu estava feliz, eu estava no compasso dos dias e dos fatos. Eu estava plena e estava convicta. Estava tranqüila e estava sem planos. Estava bem sintonizada. E de uma dia para o outro estava sozinha, estava antiga, escrava, pequena. Parece o final de um amor, mas não era amor. Era algo recém-nascido em mim, ainda não batizado. E quando acabou, foi como se todas as janelas tivessem se fechado às três da tarde num dia de sol. Foi como se a praia ficasse vazia. Foi como um programa de televisão que sai do ar e ninguém desliga o aparelho, fica ali o barulho a madrugada inteira, o chiado, a falta de imagem, uma luz incômoda no escuro. Foi como estar isolada num país asiático, onde ninguém fala sua língua, onde ninguém o enxerga. Nunca me senti tão desamparada no meu desconhecimento. Quem pode explicar o que me acontece dentro? Eu tenho que responde às minhas próprias perguntas. Eu tenho que ser serena para me aplacar minha própria demência. E tenho que ser discreta para me receber em confiança. E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto.
Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Dia especial

Ela estava acostumada em ser o foco de todos os olhares. Seu lindo rosto e corpo estavam estampados em todos os tabloides sensacionalistas, revistas e mil programas televisivos. Ela era o néctar para os paparazzi da cidade. Sua vida era de fato um espetáculo veiculado nos quatro cantos do mundo, com telespectadores fiéis e atentos. Ela era uma celebridade e muito confortável nesse papel, vale ressaltar.
Enquanto se vestia, perfumava e maquiava tornando-se ainda mais exuberante, se deu conta de que estava atrasada para mais um compromisso de trabalho. De repente, como num rompante tomara consciência da data. Gritou para Maria sua assistente:
- Que dia é hoje, Maria?
- Quarta-feira, senhora!
- Não, não. Pergunto dia do mês?
- Dia 16, senhora.
Ela estava desnorteada, dia 16 de abril. Meu Deus. Estava ausente, diante de Maria que parecia não entender exatamente nada.
- Senhora?
- Oh Maria, desculpe. Pode ir. Obrigada.
Acostumada com respostas superficiais para todos os questionamentos universais, parou e fez uma reflexão. Pausa que mobilizou seus sentimentos e lembranças. Lágrimas escorreram pela sua linda face. Como num clarão, a imagem de sua infância surgiu.
Viu-se ainda menina, brincando com o seu pai. Como eram doces aqueles momentos. Agora, ela estava tomada pelas mãos do papai e girava contemplando o céu em movimento. Ela se sentia tão bem. Segura, apesar de não saber exatamente o significado dessa palavra. Como toda criança, ela vivia de sentimentos e não de conceitos. Deitados sob o céu, ela via coelhinhos em nuvens enquanto seu pai dobrava as magas da camisa se preparando para enchê-la de cosquinhas.
Como foi feliz por ter um pai tão presente, pensava. Lembrando-se dos olhos esverdeados e sempre marejado pela emoção de viver de seu pai. É seu pai era um homem muito emotivo e bravo.
Maria entra no quarto, interrompendo seu devaneio.
- Seu carro já está pronto, senhora. O motorista já está a postos.
- Obrigada, Maria.
Olhou sua imagem por um instante arrumando a maquiagem. Julgou de bom tom tudo que viu diante do espelho, colocou os brincos, pegou sua bolsa e saiu do quarto.
Desceu as escadas, abriu a porta e avistou o motorista que lhe saudou com um sorriso e um solene bom dia.
- Bom dia, James!
- Bom dia, Senhora. Seguiremos direto para agência?
- Não, James. Hoje vamos mudar o percurso. Vamos passar em uma floricultura, quero presentear com flores uma pessoa muito especial, que se estivesse entre nós, colheria hoje, mais uma abobrinha no quintal da vizinha.
- Sim senhora disse James, sorrindo, meio sem entender.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Rosa-flor

Planeta Terra: nossa casa comum!

Milagre

Seus olhos encontraram os meus
De repente as estrelas dançam no céu
Cupido e flecha num movimento angelical
Meu coração é o alvo
Orquestra
A natureza, os pássaros e os animais todos harmonizados.
Maestria, canção para minh’alma
Sonho que se realiza
Ouço sua voz
Doce voz
Você é um milagre
O meu doce milagre

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Partir

Quando te vejo afastar
A que tristeza que dá
Já começo a sentir no ar
É a saudade a espreitar
Terei tempo pra sentir
A falta que fazes pra mim
E de lamentações vou viver
Até o momento de te rever

Supresa-Destino

Ando pensado em você
Que surgiu de onde não imaginava
E me tirou poesia corporal
Luz do dia
Raio de luar
Como pude viver sem você?
Sorriso de criança
Movimento do ar, da brisa
Seu jeito me encanta
Enlouqueço
Decifro seus sinais
Entrego-me
Fecho os olhos e caio como em um voo livre
Escolho viver esse amor
Entrelaçados, uma só alma
Um caminho a seguir
Um destino e um desejo de viver a eternidade ao seu lado.

Vida corrida!

Ela acordou a ponto de quebrar o despertador. Sentia-se cansada ainda. Correu pra o seu banho matinal e sobrou pouco tempo para se vestir, terminou de abotoar a camisa e colocar os brincos no caminho. Os olhos pareciam pesados, lançou mão de um escuto de lentes, enquanto pensava: tomara que não me vejam atrás desses óculos.
Dirigia e por pouco não grita com um motorista pouco cauteloso, reprovando sua direção perigosa. Ligou o rádio, escutava a melodia e divagava sobre a vida em seus pensamentos, chegando a sussurrar algumas palavras, como se conversasse consigo mesma.
No embalo da canção contemplou o céu azul e alguns pássaros passavam apressados. Sentia-se feliz naquele momento por fazer parte desse grande universo azul. Como gratidão elevou uma prece á Deus agradecendo pela sua bondade, pelo dom da vida, pela saúde do corpo e da alma. Ela estava voando no imenso azul, com o corpo preso ao veículo.
Voltando a consciência ligou-se novamente ao trânsito e percebeu que já estava se aproximando do local de trabalho. Tempus Fugit pensou, passando os olhos em outra direção, se deu conta de havia um homem no carro ao lado a observá-la. Sorriu. Ele também sorriu e disse: Bom dia! Ela ainda distraída, assentiu com a cabeça. Até que o sinal abriu, e seguiram seus caminhos.
Ao estacionar seu carro ela se deu conta do quanto era feliz. Mesmo diante de tantos compromissos e responsabilidades.
Sim, a vida vale a pena. Sorrir vale a pena.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Na cia de Gaarder

Conflitante

Tenho em mim um vazio que cabe o mundo
Vivo em busca “sei lá de que”
Sinto-me dizimada, deslocada.
Sou como o sol do dia
E a escuridão da noite
A razão me consome
Sou misto-quente
Sou estrema felicidade - E de repente, “tem um anjo triste perto de mim”
Não sei se é o mundo que está doente
Ou se sou o própria cólera
Estou destemperada
Sinto frio e o calor parece consumir meu corpo
Desse jeito vou vivendo
Aprendendo que a vida não se explica, é mistério.
Não da pra interpretar, é sentir somente. E quem sabe tentar desenhá-la com as cores da alegria?

“As vezes Deus me tira a poesia, olho pedra, vejo pedra mesmo.”
Adélia Prado

terça-feira, 7 de junho de 2011

Clarice Lispector e eu

"Sempre tive a sensação de mal-estar no mundo, uma sensação de não caber no meu espaço, um desconforto diante de meus pares – eu me pergunto: tenho pares? Eu sabia que em mim há uma mulher que tento esconder ferozmente. Tenho medo que as pessoas identifiquem meus excessos, essa quantidade absurda de pernas e braços que camuflo sob a roupa que visto. O que diriam se soubessem das muitas que vivem em mim e tentam bravamente, numa luta corporal, projetar-se do meu corpo? Tomariam-me por uma aberração?"

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Esperando por alguém!

Suas mãos
Seu corpo
Seu sorriso
Seu movimento
Sua dança
Seu sono
Seu amor
Seu semblante sério
Sua irritação temporária
Sua fome
Sua sede
Sua chuva
Seu verão
Seus sonhos
Seu canto
Seu lamento
Sua felicidade
Seus desejos
Toda essência, revelaram-se diante dos meus olhos
Você veio de longe para me encontrar. E por onde eu andava?
Perambulava. Mesmo sem te conhecer, já te esperava, ja contemplava suas virtudes.
Mesmo sem te ver, pensava em você.
Você me faz forte
Quero você anjo-feliz-surpresa

Parabéns, Amaro!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Boas novas!

Tinha algo diferente em seu olhar
Era noite e havia um brilho desconhecido
Ela não queria diálogo, estava reflexiva. Fiquei desconfortável, inquieto e temeroso.
Ela andava estranha – irrequieta, parecia não se conter em si. Aparentemente nada anormal. Não dediquei tempo e atenção à sua fase, dando-lhe o espaço e o tempo necessário para dar sentido aos seus conflitos internos.
E agora, sentado na varanda sinto-me confuso.
Falo com a lua, ela me conforta com seu brilho, sua luz, sua maestria.
Tenho pressagio, sinto-a se aproximar. Ela se achega, senta-se ao meu lado, olha em meus olhos e posso contemplar o brilho desconhecido mais perto.
Faz silêncio entre nós. O suficiente para escutar o barulho da noite e sentir o vento lamber nossas faces.
Algo parece incomodá-la. Ela franze as sobrancelhas e em um instante as palavras brotam como um desabafo:
- Sou a terra agora!
Fiquei ainda mais confuso e mudo.
- Sou húmus! Sou fértil!
Estava perplexo agora. Não entendia nada!
- Você não entende. Eu concebo e gesto e em breve darei a luz!
O que ela está tentando me dizer? Ôh não! Não! Ela quer, quer me dizer...
- Sim, estou grávida!
Sinto algo se rasgar dentro do meu peito. Atordoado. Óh céus! Sim. Grávida! Lágrimas escorrem dos meus olhos e o sorriso é inevitável. Serei pai, pai do fruto da terra da minha amada.
Abraço-a ternamente. Sussurro em seu ouvido:
- Eu te amo!
Ela se aconchega em meus braços como uma menina acuada e confessa estar confusa. Cala-se com um sorriso tímido no canto dos lábios.
E a lua parece sorrir para nossa limitação humana e, como mãe da terra, abençoa nosso amor em um movimento maternal.

“Sentir que somos Terra nos faz ter os pés no chão. Faz-nos desenvolver nova sensibilidade para com a Terra, seu frio e calor, sua força, às vezes ameaçadora, às vezes encantadora. Sentir a Terra é sentir a chuva na pele, a brisa refrescante no rosto, o tufão avassalador em todo corpo. Sentir a Terra é sentir a respiração até às entranhas, os odores que nos embriagam ou nos enfastiam.” 
Leonardo Boff

Lua cheia

Lua cheia
Senhora desse imenso azul
Vês do alto os amantes
Cúmplice de tantos encontros
De tantas trocas, tantos desejos...
Testemunhastes também o meu amor
O nosso doce encontro
Nossas carícias, suspiros e juras
E agora observas minha solidão
É, ele já não está mais aqui
Mas ainda não se foi
Continua ligado a mim, prezo.
Como se fosse eu mesma, entrelaçados
Rogo teus encantos
E que tu ó belíssima, inebriante e misteriosa lua cheia
Envolva-nos
Tornes o nosso amor, alegria e cumplicidade
Terra fértil durante toda a eternidade